Odeio Natal. Pra mim é daquelas
festinhas boladas por fábricas de meia e cueca, sem falar na indústria das
árvores de Natal e dos Papais Noel de shopping. Tudo programado para você
gastar o seu dinheirinho e movimentar a economia.
Aquela festinha em que você revê
aquelas tias chatas que te ignoraram o ano inteiro, se esqueceram de quem você
é filha e resolveram te comprar “uma lembrancinha”.
Aquela festinha em que você, que
malhou o ano inteiro, vai inventar de comer tudo o que está na mesa só porque,
em família, todo mundo tem que mostrar serviço levando algum prato de Natal... “A
Tia Né não pode levar os créditos da Ceia sozinha, também tinha que deixar a
minha marca”.
Aquela festinha em que todo mundo
é amigo, todo mundo se ama, todo mundo ama o próximo. Amém.
Bullshit.

Conversa vai, conversa vem, e a
família, e o natal e as pessoas, e a igreja e a hipocrisia, até que ele ia
segurando meus papos numa boa, pessoa agradável. Ele não tinha cara de filho,
deve ser desses filhos que nascem quando o irmão mais velho já tem uns 30,
sabe? Aquele que é tio, mas tem idade pra ser primo? Cabelo grande, já com umas
mechas grisalhas, tipo: sou coroa, mas sou rebelde, na casa dos 40, leve
barriguinha de cerveja, mas, no geral, magro. Moreno.

Vinho vai, vinho vem. O Natal
começa a ficar divertido quando a conversa começa a tomar o rumo da sacanagem.
Vinho sempre faz isso, né? Cerveja já é pura sacanagem desde o início. Vinho
não. Vinho é sofisticação e depois é qualquer coisa.
Me chamou para ver a parte de
fora da casa enorme da vovó, onde todos cresceram, geração um, dois, mil, xis, ípslon...
Jardim, canil, churrasqueira (por que milagre não estavam todos na
churrasqueira?), terreno que ganharia, em breve, uma piscina. Chuveirão.
Banheirinho externo.
Banheirinho externo é
interessante. Vamos entrar pra ver melhor?
Aí começa o vuco-vuco. Beija
daqui, lambe dali, tira peito do sutiã, chupa daqui, passa a mão dali.
Banheirinho externo, pra mim, tem cara de boquete. Todos deveriam pagar um
boquete escondido num banheirinho perdido... Principalmente num cara que você sabe que é comedor: homem comedor de primeira linha
você reconhece pela sagacidade da pessoa que, numa das idas para pegar vinho,
escondeu uma camisinha debaixo do relógio. Puro profissionalismo.
Um conselho que eu dou para todas
as minhas amigas é: use saia, mesmo em programa de índio. Porque sempre pode
ser útil. Ele sentou na privada, ainda sem tampa, pois o banheirinho ainda
estava em construção, e eu, que já estava enxarcada, logo sentei em cima. Eu adoro sentar num pau. Cavalguei,
cavalguei, rebolei, gozei loucamente...
Ele não iria resistir muito
tempo. Se levantou comigo no colo, me colocou apoiada na pia e me comeu por
trás... Aí não teve jeito, né? Saímos com cara de paisagem,
sorrisinho inevitável no rosto. Sentamos na varanda e retomamos a conversa, na
medida do possível...
Papai Noel, eu não fui uma boa menina, mas, ainda assim,
MUITO OBRIGADA PELO PRESENTE. Ano que vem vou ser ainda pior, que tal?